10 tendências para o mercado energético chileno em 2025

“Estamos na indústria certa. Somos os promotores da mudança para uma matriz mais limpa e sustentável até 2025”, declarou Ana Lía Rojas, Diretora Executiva da Associação Chilena de Energias Renováveis e Armazenamento (ACERA), durante sua participação no Future Energy Summit (FES 2024) em Santiago. Suas palavras não são apenas uma visão, mas refletem um processo concreto que está transformando o setor energético chileno.

Em 13 de fevereiro de 2021, o Chile deu um passo histórico ao promulgar sua primeira Lei de Eficiência Energética. Essa legislação estabeleceu as bases para o ambicioso plano de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Os números são expressivos: até 2030, espera-se uma redução de 10% na intensidade energética, o que significará uma economia acumulada de US$ 15,2 bilhões e uma redução de 28,6 milhões de toneladas de CO₂.

O governo do presidente Gabriel Boric deu novo impulso a essa agenda em 2023, quando apresentou emendas para elevar as metas de participação de energias renováveis na matriz energética. O ministro da Energia, Diego Pardow, foi claro: “A iniciativa original previa 40% de produção com energias renováveis até 2030, mas nossa análise mostra que podemos alcançar 60%, mantendo um mínimo de 40% em cada bloco horário”. Essa revisão reflete tanto o progresso já alcançado quanto o potencial ainda a ser explorado.

O estudo “Energía Verde en América Latina“, realizado pela Sherlock Communications, confirma que o Chile está não apenas no caminho certo, mas superando expectativas. Com a região gerando 60% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis – uma das redes mais limpas do mundo – o país se destaca ao lado de Brasil e México. Projeções indicam que o Chile será responsável por 14% da capacidade renovável global até 2030, um feito notável para sua dimensão.

Os dados da Ember mostram um crescimento extraordinário: a capacidade solar chilena aumentou mais de 1.300%, aproveitando o incomparável potencial do Deserto do Atacama, que registra alguns dos mais altos níveis de radiação solar do planeta. Esse desenvolvimento coloca o país na vanguarda da energia solar não apenas na região, mas em escala global.

Schreiner Parker, diretor-gerente para América Latina da Rystad Energy, oferece uma perspectiva realista: “O Chile e Brasil podem se tornar grandes exportadores de energia limpa, mas precisam superar desafios regulatórios, garantir financiamento adequado e gerenciar cuidadosamente a transição dos combustíveis fósseis”. Essa análise ecoa os pontos levantados por Ana Lía Rojas, que detalhou os obstáculos específicos que o país enfrenta.

Armazenamento: progresso e desafios

Desde a aprovação da Lei de Armazenamento em 2022, o desenvolvimento de projetos superou as expectativas mais otimistas. Atualmente, há 5.600 MW em processo de qualificação, 3.300 MW já aprovados e 1.500 MW em construção. No entanto, a integração desses grandes volumes ao sistema elétrico ainda apresenta riscos operacionais significativos, especialmente em um mercado que ainda está se adaptando a essa tecnologia.

A eliminação gradual do carvão

O plano de descarbonização já mostra resultados concretos. Das 3.900 MW de capacidade instalada a carvão, 1.600 MW já foram desativados, com planos de desligar mais 1.000 MW até 2025, dependendo das condições de estabilidade do sistema. Alternativas tecnológicas, como condensadores assíncronos, estão sendo avaliadas para substituir essa capacidade, mas sua eficácia a longo prazo ainda precisa ser comprovada.

O dilema das tarifas energéticas

Após quatro anos de tarifas congeladas, as distribuidoras começaram em 2024 o processo de normalização dos preços. Esse ajuste trouxe à tona um debate complexo: como criar políticas públicas que garantam subsídios para consumidores vulneráveis sem desestimular os investimentos privados necessários para a expansão do setor? As medidas propostas pelo governo, segundo Rojas, geram incertezas que podem afetar os Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE).

Licitações públicas: um mecanismo a ser revitalizado

As licitações foram fundamentais para a introdução das energias renováveis entre 2014 e 2016, mas atualmente enfrentam o desafio dos altos custos, que reduzem a participação de potenciais investidores. O setor busca respostas para uma pergunta crucial: como fazer com que esse mecanismo volte a ser um instrumento eficaz para atrair investimentos em renováveis?

Reduzindo o desperdício de energia

Um dos problemas mais urgentes é a perda anual de 4,5 a 5 TWh devido a vertimentos – o equivalente a um mês e meio de geração renovável. Entre as soluções em discussão está a criação de mercados para transferência de excedentes entre agentes, que permitiriam compensações sem alterar as regras operacionais do sistema.

Tecnologias para estabilizar a rede

Os avanços em eletrônica de potência e grid forming são promissores, permitindo estabilizar a rede sem depender de máquinas rotativas tradicionais. Porém, ainda é necessário desenvolver mecanismos claros de remuneração para essas tecnologias inovadoras.

Burocracia: um obstáculo persistente

Apesar do progresso na descarbonização, 64% da matriz energética chilena ainda depende de combustíveis fósseis. Os atrasos nos processos de licenciamento são um entrave significativo, com 80% das ampliações e 60% das novas obras de transmissão enfrentando atrasos. Órgãos como o Conselho de Monumentos Nacionais e o Ministério de Bens Nacionais precisam agilizar seus processos para não frear projetos estratégicos.

A reforma do setor elétrico

O mercado elétrico representa apenas 22% da matriz energética chilena, enquanto a dependência de combustíveis fósseis (com custos de importação equivalentes a 6-8% do PIB) permanece alta. Duas reformas são prioritárias: modernizar o sistema de distribuição para torná-lo mais eficiente e descentralizado, e reestruturar o mercado atacadista para facilitar a integração das renováveis e promover maior competição.

Um futuro promissor, mas desafiador

O Chile demonstra um compromisso inequívoco com a transição energética, mas o caminho à frente exige superar obstáculos complexos. Desde questões regulatórias até desafios técnicos e financeiros, a realização da visão de uma matriz 60% renovável até 2030 demandará ações coordenadas e investimentos contínuos. Os avanços já alcançados, no entanto, mostram que o país tem capacidade para liderar essa transformação não apenas regionalmente, mas como exemplo global.

 

Written by: Ana Cecilia Escobar