Se o blockchain é a próxima fronteira da tecnologia, o Brasil pode ser um dos seus maiores campos de testes – e não apenas por causa de seu tamanho em relação ao continente. O Blockchain apresenta soluções totalmente novas e pioneiras para problemas muito antigos, e a América do Sul tem muito disso.
O Brasil tem uma vantagem tecnológica legítima que outros países mais desenvolvidos estão apenas começando a adotar como o máquina eletrônica de cédula. Mas também enfrenta desafios burocráticos não vistos quase em qualquer outro lugar. Um caso em questão é o sistema de registro de terras. Perturbadoramente arcaico, o sistema de registro de propriedades no Brasil é feito localmente por um cartório público. É um sistema fragmentado e não comunicável que torna a verificação da propriedade arriscada e incerta. Um cartório também é responsável pelo registro civil de casamentos, nascimentos, mortes, adoções, emancipação de menores, validação de assinaturas e contratos. Para cada uma dessas funções, o nível de documentação manual e não automatizada é impressionante. Em um estudo sobre registro de terras no Brasil, o Banco Mundial concluiu que são necessários, em média, 13 passos para um comprador de uma propriedade da terra não disputada registrá-la. Mas o blockchain já está sendo testado e os resultados foram divulgados.
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Em 2017, Ubitquity, uma empresa de Delaware que oferece soluções blockchain para a titulação de imóveis, em parceria com o governo brasileiro, o notário público local e a Universidade de Pelotas implementará registro eletrônico de imóveis em Pelotas e Morro Grande, duas cidades no sul do estado do Rio Grande do Sul. A titulação da blockchain será ainda mais importante e transformadora quando se trata de propriedades em áreas não regulamentadas, principalmente as conhecidas como “favelas” – muitas vezes comunidades de encostas que cresceram organicamente e informalmente, sem serviços públicos e sem documentação. A maioria dos proprietários dessas áreas é considerado proprietários legítimos pela lei local, mas eles não têm a documentação necessária para tornar esses ativos líquidos e disponíveis como garantia para empréstimos, bem como apresentar prova de propriedade para a abertura de contas em banco.
Nas eleições presidenciais de outubro de 2018, o blockchain foi vendido como a solução para vários problemas, mas acabou sendo usado, pela primeira vez, como uma ferramenta no financiamento de uma campanha. Marina Silva, a ambientalista de renome mundial que concorreu à presidência, usou a plataforma Decred para o crow-funding de sua campanha com o objetivo declarado de tornar as suas doações e finanças suficientemente transparentes.
Em junho de 2018, o Banco Central do Brasil anunciou o PIER, uma nova plataforma liderada por blockchain para a comunicação de dados entre reguladores financeiros. Desenvolvido pelo próprio departamento de TI do Banco Central, o sistema manterá a troca de dados entre o banco, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Previdência Nacional Autoridade de Fundos e Superintendência de Seguros Privados.
O setor bancário no Brasil apresenta desafios específicos, e o blockchain poderia revolucionar um sistema que age quase como um cartel onde existe muito pouca competição genuína.
Companhias como a Airfox, com sede em Boston, foram lançadas no Brasil com o objetivo claro de desafiar o status quo ao fornecer serviços que oferecerão acesso financeiro a milhões de indivíduos sem banco no Brasil.
Embora ainda não tenham a regulamentação necessária para o comércio de criptografia, as empresas brasileiras estão se incorporando fora do país para permitir o comércio local.
A Wise & Trust, uma empresa brasileira de investimentos em ativos digitais, localizada em Delaware para permitir a segurança jurídica para seus clientes. Ainda de acordo com Ruda Pellini, Chefe de Desenvolvimento de Negócios, a falta de regulamentação não impede o investimento em ativos digitais, e há mais investidores registrados para o comércio de moedas criptografadas do que na bolsa de valores regular.
Para Luiz Hadad, Designer de Comunidade na EOS Rio, “Brasil e América Latina representam uma enorme oportunidade para blockchain e DLT (tecnologias de contabilidade distribuída). Muitos problemas no continente são devido à falta de confiança em governos e instituições, e tudo isso poderia ser resolvido pela aplicação de blockchain e protocolos de consenso impactando milhões de pessoas”.
Blockchain também está sendo aplicado em serviços de saúde, e a startup EverSafe promete uma redução de até 35% nos custos de saúde pública quando for totalmente implementado. Até agora, o histórico de saúde de uma pessoa pertence, na prática, ao hospital onde ela foi tratada. E porque a lei local não permite o compartilhamento de dados de saúde entre hospitais, isso garante a privacidade, mas também dificulta o acompanhamento adequado e um diagnóstico preciso.
Com a plataforma EverSafe, o histórico de saúde e diagnóstico estaria centralizado em um blockchain e se tornaria, de fato, de cada paciente que poderia vender ou permitir o uso de suas informações pelos hospitais, serviços de saúde públicos e seguradoras.
Com a maior floresta e biodiversidade do mundo, o Brasil está, também, discutindo o acompanhamento de projetos de reflorestamento com a ajuda de blockchain.
Com a maior floresta e biodiversidade do mundo, o Brasil também é discutir o acompanhamento de projetos de reflorestamento com a ajuda de rp para blockchain. O agronegócio no Brasil, uma das maiores fontes de receitas estrangeiras, também está investindo no blockchain para o rastreamento de produtos animais em todo o percurso, da origem até o supermercado.
Mesmo áreas em que o Brasil tem estado a frente da maioria dos países, como em seu processo de votação, poderiam ser melhoradas com o uso de blockchain. Repleto de acusações de manipulação de votos, especialmente na recente eleição presidencial de 2018, as futurísticas máquinas de votação podem, em pouco tempo, se tornar algo do passado se comparadas às plataformas de blockchain mais difíceis de adulterar. Politicamente, a inovação pode ajudar em outras áreas, também. A constituição brasileira permite que qualquer petição pública apoiada por 1% do eleitorado seja debatida em congresso. Com o blockchain, as petições se tornariam mais transparentes e imediatas.
Referendos públicos poderiam, também, ser feitos mais comumente, se não fosse por seu custo. De acordo com o TSE, o Tribunal Superior Eleitoral, qualquer referendo público custa ao Estado R$ 500 milhões (USD 140 milhões). A velocidade e facilidade de consulta via blockchain é, ainda, outra maneira em que as coisas possam mudar tão rápido quanto tem sido desde a criação da internet, e o Brasil tem muitas razões para se tornar uma excelente caixa de areia para as transformações que estão por vir, tanto nos termos da tecnologia, quanto em escalabilidade.