Na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, encontra-se uma pequena ilha tropical chamada La Isla de La Fantasia – Ilha da Fantasia. É o cenário do filme Los Silencios de 2019, uma poderosa, mas delicada, análise ficcional da crise dos refugiados colombianos pela escritora e diretora brasileira Beatriz Seigne. Uma exibição especial desse filme fantástico reuniu os espectadores na maior cidade da América Latina para discutir refúgio e migração.
O longa conta a história de Amparo, uma mulher que recentemente perdeu o marido e uma de suas filhas no conflito armado entre o governo colombiano e o grupo guerrilheiro FARC. Mas seus corpos ainda não foram encontrados. Ela chega à ilha com dois filhos, é recebida por uma tia idosa e pede asilo no Brasil. Enquanto seu pedido é processado, ela continua sua luta por reparações.
Amparo luta para sobreviver em um ambiente radicalmente novo, buscando desesperadamente um emprego e arrancando centavos para manter seus filhos na escola – o tempo todo negociando com os funcionários públicos, equipada apenas com uma pasta cheia de documentos.
Segundo dados da ONU, este conflito desalojou mais de 3 milhões de pessoas nas fronteiras colombianas desde meados da década de 1960. Muitas vezes esquecidas pela mídia internacional, essas pessoas deslocadas internamente (IDPs, pelas siglas em inglês) fazem parte da vida cotidiana na Colômbia.
Devido à sua abordagem sensível e humanizada à crise dos refugiados, este filme foi selecionado para exibição em um evento oferecido por nossa cliente pro bono, a ONG Abraço Cultural, uma escola de idioma e cultura que emprega apenas refugiados e imigrantes. Com a missão de romper barreiras culturais e ajudar os mais de 5.000 refugiados que vivem em São Paulo a encontrar um caminho em um novo ambiente, essa escola única capacita professores e promove uma rica troca de experiências.
O renomado Museu da Imagem e do Som abriu as portas para a exibição, liderada pelas professoras de espanhol Ludmila Lee e Maria Ileana Faguaga, do Abraço Cultural, além da pesquisadora e imigrante peruana Soledad Requena Sayer. Mais de 100 pessoas prontamente lotaram a sala. A empresa líder de bebidas do Brasil Ambev ofereceu bebidas geladas gratuitamente, e o restaurante colombiano Macondo – Raízes Colombianas serviu à multidão com iguarias tradicionais, incluindo arepas, empanadas e arroz tres leches.
Depois da sessão inspiradora, Faguaga mediou a discussão que ressaltou problemáticas sobre refúgio, cidadania e direitos humanos no mundo atual. Alguns participantes elogiaram o foco do filme nas consequências humanas do narcotráfico, e não no conflito. Outros defenderam mais empatia e respeito pela bagagem cultural, social e emocional envolvida na busca de refúgio.