Este pacto busca fortalecer os laços comerciais e políticos entre as nações latino-americanas e europeias participantes. Após mais de 20 anos de negociações, o tratado representa uma oportunidade única de promover o crescimento econômico, o intercâmbio cultural e a colaboração em questões globais, como sustentabilidade e inovação.
A aliança cria uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, impactando cerca de 750 milhões de pessoas. Do ponto de vista econômico, é considerado o terceiro maior acordo global, atrás apenas do T-MEC (Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá) e da RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente).
Para o Brasil, o maior país da América Latina no bloco, essa parceria representa uma das conexões econômicas mais importantes entre a América do Sul e a Europa, ligando dois grandes atores de suas respectivas regiões. Além do comércio, é uma oportunidade para fortalecer a cooperação política e o diálogo entre todos os países envolvidos, ao mesmo tempo em que promove esforços conjuntos em desenvolvimento sustentável e tecnologia.
De acordo com a Comissão Europeia, a União Europeia (UE) é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por cerca de 18% do comércio total do país. Por outro lado, as exportações brasileiras para a UE alcançaram US$ 46 bilhões em 2023.
As duas regiões se complementam por meio de suas importações e exportações, fortalecendo suas economias e mercados com o intercâmbio de bens e matérias-primas.
As exportações do Brasil não se limitam apenas à agricultura, como muitos podem pensar, mas este setor ainda é um pilar fundamental devido aos seus recursos naturais abundantes. O Brasil é o maior fornecedor de soja, carne bovina e açúcar para a União Europeia. Além disso, é um importante exportador de minério de ferro para o bloco. Em 2023, produtos agrícolas e minerais representaram 17% e 21% das exportações brasileiras, respectivamente.
Outro setor de destaque é o aeroespacial, com a Embraer figurando entre os principais fabricantes mundiais de aeronaves. A Embraer não apenas contribui para as exportações brasileiras, mas também colabora com fornecedores europeus, criando uma cadeia de produção colaborativa sólida.
Calçados também têm grande relevância, com consumidores europeus adotando sapatos brasileiros, sejam de couro ou materiais sustentáveis. As Havaianas, por exemplo, são extremamente populares por sua durabilidade, estilo e conforto, sendo vendidas em mais de 100 países europeus, segundo a Folha de São Paulo.
Além disso, o Brasil fornece bens eletrônicos para a Europa, incluindo tecnologia voltada para automação industrial.
A parceria é mútua. Em 2024, as exportações da UE para o Brasil somaram cerca de US$ 21 bilhões, segundo dados do governo brasileiro. Os principais produtos exportados foram máquinas (26%), produtos químicos e farmacêuticos (23%) e equipamentos de transporte (13%). O Brasil também importa máquinas agrícolas da Europa, evidenciando a forte interconexão entre as economias.
Apesar dos inúmeros benefícios, ainda há desafios que podem complicar essa relação. Um dos principais problemas são as altas tarifas de importação no Brasil, que podem chegar a 13,5%, tornando os produtos internacionais mais caros e menos competitivos.
Além disso, o sistema tributário brasileiro adiciona custos extras às importações, com impostos como o Imposto de Importação (II), ICMS, IPI e PIS/Cofins. Esses tributos variam de estado para estado, o que torna o sistema ainda mais complexo.
Outros desafios incluem regulamentos rigorosos de segurança alimentar e de bebidas, flutuações cambiais, altos custos de transporte, infraestrutura precária nos portos brasileiros e lentidão nos processos alfandegários.
Para a Argentina, o acordo abre portas para novos mercados e fortalece sua posição estratégica no cenário global. O mercado europeu, com mais de 450 milhões de consumidores, oferece imenso potencial para os países do Mercosul, especialmente com a significativa redução de tarifas sobre produtos agrícolas e pecuários – setores em que ambas as regiões possuem vantagens competitivas.
A Argentina se beneficiará com o aumento das exportações de carne, vinho, laticínios e grãos. Esses avanços melhorarão sua competitividade nos mercados globais, diversificarão seus parceiros comerciais e atrairão investimentos para modernizar setores-chave como a agroindústria e a tecnologia. Com recursos naturais abundantes e uma força de trabalho qualificada, a Argentina está bem posicionada para aproveitar essas oportunidades.
Um plano para construir usinas nucleares e desenvolver centros de inteligência artificial: uma boa oportunidade para a Argentina (e para a UE)
O plano recente da Argentina para construir usinas nucleares e centros de desenvolvimento de inteligência artificial (IA) pode se beneficiar significativamente do novo acordo com a União Europeia. A Parceria Estratégica UE-Argentina oferece oportunidades em setores-chave, como energia e tecnologia:
O acordo com a UE oferece à Argentina transferência de tecnologia, financiamento e colaboração em pesquisa, acelerando o progresso em energia nuclear e desenvolvimento de IA. A UE também se beneficiará, ganhando acesso a novos mercados e fortalecendo sua influência na América Latina.
O acordo Mercosul-União Europeia também abre caminho para maior investimento estrangeiro direto, especialmente em infraestrutura, tecnologia e energia renovável. O Uruguai, conhecido por sua estabilidade política e econômica, pode se consolidar como um hub estratégico para empresas europeias que buscam expandir sua presença na América Latina.
A pecuária uruguaia, um setor-chave no mercado europeu, deve se beneficiar da redução ou eliminação de tarifas para exportações de carne de alta qualidade. Além disso, a indústria de laticínios provavelmente verá uma maior competitividade na Europa, graças aos termos preferenciais e à remoção de barreiras comerciais.
O acordo pode aumentar significativamente a capacidade de exportação para a UE. Quando o acordo entrar em vigor, cerca de 70% das tarifas europeias poderão ser eliminadas, oferecendo um impulso comercial às exportações uruguaias.
Em 2023, a União Europeia foi o terceiro destino mais importante para as exportações do Uruguai, representando 17% do total. A pecuária uruguaia será um dos maiores beneficiários do acordo, que concede uma cota de 99 mil toneladas para exportação de carne bovina à UE.
Embora o Chile não esteja diretamente incluído no acordo Mercosul-União Europeia, suas relações políticas e econômicas com a UE são regidas pelo Acordo de Associação assinado em 2002. Em dezembro de 2023, o Chile avançou ainda mais ao assinar um novo Acordo de Associação Avançado com a União Europeia, tornando-se o primeiro país da região a formalizar um pacto de última geração com o bloco.
Mesmo não sendo parte direta do acordo Mercosul-UE, o Chile pode se beneficiar indiretamente por meio de:
No longo prazo, a maior interação entre os países latino-americanos sob o acordo pode fortalecer os laços comerciais regionais e promover uma cooperação econômica mais ampla.
O acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul apresenta oportunidades significativas para a Colômbia em setores como agroindústria, manufatura e tecnologia. A integração com o Mercosul e a Aliança do Pacífico pode impulsionar exportações agrícolas como café, frutas e flores, que somaram US$ 2,5 bilhões em 2022, de acordo com dados do DANE.
As indústrias automotiva e de autopeças também têm muito a ganhar, considerando que Brasil e Argentina respondem por 60% da produção automotiva da América Latina. Além disso, o investimento europeu de 45 bilhões de euros até 2027, destinado a infraestrutura, sustentabilidade e transição digital, oferece oportunidades estratégicas para o país.
A Colômbia busca participar de projetos de energias renováveis e logística, aproveitando a experiência brasileira e promovendo iniciativas colaborativas na região.
No entanto, há riscos. Entre eles, o possível deslocamento de produtos colombianos por bens brasileiros e argentinos, além de investimentos europeus que possam favorecer os países do Mercosul. Para se manter competitiva, a Colômbia precisará renegociar seu Tratado de Livre Comércio com a UE, abordando desafios na indústria e na agricultura, enquanto se adapta às novas dinâmicas do comércio global.
Para o Peru, o acordo entre Mercosul e União Europeia representa um passo à frente que pode ajudar a fortalecer sua posição dentro da região. Com a recente inauguração do Porto de Chancay – que promete reduzir significativamente os tempos de envio para a Ásia, especialmente para a China –, o país continua apostando nas exportações como uma de suas principais fontes de renda, com forte foco no mercado europeu.
De acordo com a Superintendência Nacional de Aduanas e Administração Tributária (SUNAT), as exportações peruanas para a União Europeia totalizaram US$ 6,811 bilhões até o final de 2023.
Os principais produtos exportados para o mercado europeu incluem cobre (11,4%), café não torrado (9%), abacates frescos (7%), zinco calcinado (6,1%) e mirtilos (5,5%). Além disso, o Peru mantém um Acordo Comercial com a União Europeia há mais de 11 anos, período no qual importou produtos que somaram US$ 43,717 bilhões. Atualmente, a UE é o maior fornecedor de produtos farmacêuticos para o Peru. Por outro lado, o país se consolidou como o principal fornecedor extra-UE de abacates, mirtilos e aspargos, além de ser o segundo maior fornecedor de uvas frescas.
O novo acordo pode significar uma grande expansão nos tipos de produtos com potencial de exportação. O ouro pode ganhar mais destaque, aproximando-se do nível de exportações de cobre e zinco. Da mesma forma, os chamados “superalimentos peruanos”, como quinoa e café orgânico, podem explorar sua popularidade atual na Europa para se beneficiar da tendência de consumo saudável.
Outros produtos com potencial de crescimento incluem pescados (como farinha de peixe, camarões e atum enlatado), produtos agroindustriais como cacau, têxteis como algodão Pima e roupas de alpaca, além de outros produtos primários ou acabados.
Outro aspecto importante do acordo é a diversificação dos países de destino para as exportações peruanas na Europa. Segundo a ADEX, entre janeiro e outubro de 2024, os Países Baixos foram o principal destino das exportações peruanas, com um total de US$ 1,958 bilhão, seguidos por Espanha (US$ 1,652 bilhão), Alemanha (US$ 714 milhões), Itália (US$ 712 milhões) e Bélgica (US$ 513 milhões).
O Panamá se tornou o primeiro país fora da América do Sul a alcançar o status de Estado Associado dentro do Mercosul, marcando um momento histórico na integração econômica regional. Essa conexão liga o Panamá a um bloco que representa a quinta maior economia do mundo, com um mercado de 271 milhões de habitantes e um PIB de US$ 4,5 trilhões.
Para o Panamá, isso cria oportunidades para exportar produtos como carne desossada, café, extrato de malte e produtos à base de cereais, abrindo novos horizontes comerciais. Por outro lado, para os países do Mercosul, a plataforma logística do Panamá e os incentivos fiscais da Zona Livre de Colón oferecem uma porta estratégica para o comércio global.
Esse acordo não apenas reforça o Panamá como um líder logístico na região, mas também reflete um compromisso compartilhado com o crescimento econômico sustentável. Como disse o presidente José Raúl Mulino: “Hoje fizemos história.” Essa parceria simboliza uma visão unificada de progresso, posicionando tanto o Panamá quanto o Mercosul como atores essenciais em um futuro conectado, beneficiando produtores e consumidores de ambos os blocos.