Acessibilidade digital: o ponto de encontro entre a inclusão social, compliance e objetivos empresariais

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A nossa realidade física cruza constantemente com a virtual, que permeia diversos aspectos de nossas vidas. Em 2015, a UNESCO adotou o conceito de “Internet Universal”, que vem estimulando vários debates sobre a acessibilidade digital. Quão acessível é o mundo cibernético?

A portabilidade digital é definida pela possibilidade de qualquer pessoa, independentemente de suas habilidades físicas, sensoriais ou cognitivas, de acessar informações e serviços oferecidos na Internet. Esse conceito engloba um grande espectro de usuários, desde indivíduos com deficiência visual ou auditiva, até aqueles com deficiências físicas, de fala, cognitivas, de linguagem, de aprendizagem ou neurológicas.

Neste artigo, vamos analisar em detalhe os três pilares da acessibilidade web: inclusão social, conformidade regulatória e objetivos de negócio. Além disso, vamos estudar o cenário na América Latina, assim como suas normas e diretrizes.

Decodificando os 3 pilares da acessibilidade digital

Abaixo, você verá como cada um desses pilares contribuem e se complementam para que haja a democratização do acesso.

1. Inclusão social

Cerca de 15% da população mundial têm alguma deficiência. De acordo com a OMS, há 1.3 bilhões de pessoas com alguma deficiência significativa ao redor do mundo. E o panorama na América Latina é similar: o Banco Mundial estima que há 85 milhões de indivíduos com deficiência, representando 14.7% da população.  

Quando um uma plataforma na Internet falha em assegurar acessibilidade, esse universo de milhões de pessoas é excluído. Portanto, ao eliminar as barreiras que impedem a sua transitação pelos espaços digitais, há melhor qualidade de vida para todos.

Ainda, a inclusão digital não só beneficia usuários com deficiência, mas também facilita a navegação para pessoas que não cresceram imersas na Internet e otimiza, por exemplo, a usabilidade em aparelhos móveis, ampliando o acesso.

A eliminação das barreiras de acessibilidade pode resultar em uma maior equidade social, um mercado digital mais inclusivo e a melhora na qualidade de vida das pessoas.

2. Conformidade regulatória

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências (CRPD), ratificada por 193 países, estabelece o direito de indivíduos com deficiência em acessar informações e comunicações em condições equivalentes.

Quando trazemos esse conceito para dentro das telas, surgem questões em relação às características que um site deve ter para ser considerado acessível. Ainda que não haja uma única resposta, vários governos e organizações vem promovendo regulamentos e diretrizes na tentativa de garantir equidade no acesso a informações e serviços digitais.

WCAG e ADA: uma diretriz internacional e uma lei de referência

Tanto a WCAG quanto a ADA são as duas maiores referências na esfera de regulamentos de acessibilidade.

As Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdos Web (WCAG), desenvolvida pela World Wide Web Consortium (W3C), apresentam recomendações para tornar o conteúdo mais acessível para todos os usuários. Desde sua criação, a WCAG evoluiu para a versão WCAG 2.0, publicada em 2008, e agora podemos encontrar a versão mais recente, WCAG 2.2, publicada em 2023.

Ademais, o Ato de Americanos com Deficiências (ADA) teve um papel importante em promover a acessibilidade digital nos Estados Unidos, e atraiu o interesse da comunidade internacional. Esta legislação, que requer que sites sejam acessíveis para pessoas com deficiências, causou controvérsias em diversas ocasiões, resultando em ações legais contra a ela, bem como na exigência de diretrizes mais claras. 

Um panorama geral das leis latino-americanas

Diversos países latino-americanos, como o Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Uruguai, deram passos importantes no quadro regulatório em busca de maior inclusão digital na sociedade.

Esses regulamentos compartilham o objetivo de eliminar barreiras virtuais, focando, principalmente, em sites educacionais e governamentais, também abrindo caminho para as demais empresas. Nesse sentido, é aconselhável ter a orientação de uma agência latino americana para garantir a compliance regulatória em cada país específico. 

  • Brasil: a  lei n. 10,098, que estabelece a base para as normas e critérios gerais no incentivo da acessibilidade, foi modificada em 2024 pelo decreto 5,296, que determina os padrões de acessibilidade em sites, programas e aplicações nos setores público e privado. Em 2015, a lei n. 13,146 para a Inclusão de Pessoas com Deficiência foi adicionada.
  • Argentina: lei n. 26,653 regula a acessibilidade de informações de site. A autoridade regulatória, National Office of Information Technologies (ONTI), definiu normas de acessibilidade através do ONTI provision No. 6/2019. Além disso, o Banco Central da Argentina, por meio da communication “A” 7517/2022, estabeleceu que todas as entidades financeiras devem colaborar com os requerimentos de acessibilidade digital. 
  • Colômbia: a lei estatutária n. 1,618  determina provisões em relação ao exercício dos direitos de pessoas com deficiências. Ainda, em 2008, o decreto n. 1,151 instituiu requerimentos mandatórios para entidades que compõem a administração pública da Colômbia. 
  • Peru: em 2005, a lei n. 28,530 foi criada para o incentivo do acesso de pessoas com deficiência, estabelecendo a obrigação de entes públicos e universidades em incorporar alternativas de acesso para indivíduos com deficiências visuais em suas páginas e portais.
  • Uruguai: o decreto 406/022, publicado em 2023, promoveu normas da acessibilidade universal, reconhecendo as tecnologias de informação como o fator chave para a integração e equidade social. Esse regulamento determina como norma os mesmos estabelecidos pela WCAG.

Em geral, os quadros regulatórios são escassos em normas e diretrizes práticas para garantir acessibilidade ou facilitar sua implementação efetiva, o que aumenta as questões sobre como garantir a conformidade regulatória.  

3. Perspectivas empresariais: os benefícios estratégicos da acessibilidade

A inclusão digital é também um componente estratégico para o sucesso de uma empresa. Um dos benefícios mais claros e óbvios é a expansão público-alvo e o surgimento de novas oportunidades de negócio. 

Um site acessível abre portas para milhões de usuários, pelo fato de melhorar a experiência e facilitar a navegação, o que pode aumentar a conversão e reduzir taxas de rejeição, enquanto acentua a satisfação e confiança do consumidor.

56% das pessoas com deficiências mencionaram a acessibilidade como razão para escolher um e-commerce. Um site acessível não apenas garante um diferencial competitivo, como também aumenta a probabilidade de retorno e recomendação da empresa, fortalecendo a reputação da marca.

Ademais, ser uma das empresas pioneiras em acessibilidade universal pode antecipar a conformidade regulatória, evitando a necessidade de aplicar altos recursos em atualizações e penalidades legais.

Um site acessível pode gerar um maior ROI ao aumentar o tráfego, as conversões e a confiança do consumidor, além de eliminar o risco do não cumprimento das conformidades regulatórias. 

Normas e diretrizes da inclusão tecnológica

Seja de uma perspectiva empresarial, social ou regulatória, a acessibilidade digital é um elemento essencial para qualquer negócio ou organização com presença digital.

Apesar da maioria dos regulamentos latino-americanos não especificarem os parâmetros e as diretrizes que podem garantir uma disponibilidade digital adequada, existem certos consensos em relação aos padrões estabelecidos pela WCAG.

Consequentemente, vamos utilizar estas orientações como ponto de partida para analisar as normas e diretrizes da acessibilidade digital.

O objetivo aqui não é te entediar com um longo check list para estabelecer um determinado nível de acessibilidade. Os elementos que vamos analisar são caminhos com o intuito melhorar a usabilidade digital. Para obter uma análise e otimização mais profunda sobre o assunto, recomendamos  os nossos serviços de avaliação e análise.

Aspectos chave para a otimização da acessibilidade

Abaixo, vamos analisar uma série de recomendações básicas para melhorar a acessibilidade de um site. 

1. Estrutura acessível

  • Um site deve conter uma estrutura clara e lógica, além da hierarquia de conteúdo. Isso facilita a navegação dos usuários e a compreensão das informações.
  • As legendas contribuem para a organização do conteúdo do site e facilitam a capacidade de leitura. Além disso, o uso de legendas é essencial para os leitores de tela identificarem a estrutura do site.
  • Uso de títulos (H1, H2, H3, etc.) de forma hierárquica e consistente para estruturar o conteúdo. Isso facilita a navegação e compreensão do conteúdo, especialmente para aqueles usuários que necessitam de tecnologia assistiva.
  • Os links internos devem ser claros, descritivos e bem organizados. Isso permite que os usuários naveguem com facilidade e encontrem facilmente as informações desejadas.

2. Design acessível

  • O site precisa ser responsivo para adaptar-se a diferentes tamanhos de telas e dispositivos. Isso garante que todos os usuários possam acessar o conteúdo facilmente, independente do aparelho que estejam usando. Um serviço de design web profissional é chave neste processo.
  • As cores utilizadas no site devem ter contraste suficiente para serem visualizadas por pessoas daltônicas ou com outras características visuais. 

3. Conteúdo acessível

  • A linguagem utilizada no site de ser clara, simples e facilmente compreendida. Evite jargões técnicos, pois podem confundir alguns usuários.
  • Imagens, gráficos e outros conteúdos gráficos devem conter textos alternativos (alt texts) que descrevem seu conteúdo. Isso é essencial, por exemplo, para usuários com deficiências visuais acessarem informações através de leitores de tela
  • Vídeos e áudios devem ter uma transcrição que permite que pessoas com deficiências auditivas consigam acessar estes formatos de conteúdo.
  • Evite conteúdos que piscam com frequência, pois podem provocar ataques epilépticos. 

4. Interação e navegação acessíveis

  • Mantenha uma estrutura navegacional consistente. Isso facilita a familiarização e usabilidade para todos os usuários.
  • O site precisa permitir a navegação direcionada pela palavra-chave, essencial para aqueles com mobilidade reduzida ou com deficiências motoras conseguirem acessar as informações sem o uso de um mouse.
  • O site precisa ser compatível com os leitores de tela mais populares. Isso permite que usuários com deficiências visuais acessem o conteúdo auditivamente.
  • Os formulários devem ser acessíveis para todas as pessoas, o que envolve, por exemplo, o uso de tags claras, opções de preenchimento automático e validação de informações.

A acessibilidade digital é primordial

A acessibilidade digital é uma necessidade indispensável e, principalmente, um direito. É também uma ferramenta essencial para abrir portas à inclusão social, conformidade regulatória e objetivos de negócio. 

Enquanto há diversas questões em relação à implementação da inclusão tecnológica, existem, como vimos acima, ações fundamentais que qualquer negócio ou organização deve colocar em prática.

Em uma sociedade altamente permeada pela tecnologia, a acessibilidade digital não é meramente uma opção, e sim um imperativo que não pode ser adiado e deve ser abordado para construir uma presença digital que seja tão inclusiva quanto efetiva.

Written by: Agustina Alvarez Rossi