O que a Copa do Mundo Feminina deixou de lição para a América Latina?

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A Copa do Mundo feminina trouxe destaque e evidência para uma modalidade ainda subsidiada e subestimada: o futebol feminino. Apesar da sua crescente popularidade, a categoria ainda enfrenta grandes desafios significativos baseados na desigualdade de oportunidades e no preconceito arraigado na sociedade.

Uma das principais questões a serem tratadas é a disparidade de aplicações e investimentos entre o futebol masculino e o feminino. Enquanto  as equipes masculinas contam com um apoio financeiro massivo, muitos times femininos ainda lutam para obter o apoio minimamente adequado.

A falta de valorização da modalidade feminina afeta diretamente no desenvolvimento e na competitividade do esporte, que também é alvo da baixa divulgação, e do preconceito de gênero, que sempre vem acompanhado de estereótipos e comentários altamente pejorativos.

No artigo de hoje, nós abordaremos algumas reflexões e lições acerca da Copa do Mundo feminina, bem como a história e a evolução dessa categoria na América Latina e no mundo.

História do futebol feminino

Pode-se dizer que a história do futebol feminino é uma grande crônica sobre resiliência e resistência. Os primeiros indícios de mulheres envolvidas em jogos com bola remontam à Dinastia Han na China, antes mesmo do ano 220 d.C. 

Além disso, há relatos que apontam para a existência de competições femininas de futebol na Escócia em 1790, seguidas por ocorrências em 1863. Entretanto, segundo a FIFA, a primeira partida oficial de futebol feminino foi registrada em 23 de Março de 1885, em Crouch End, Londres, Inglaterra.

Também há documentos que indicam que a maior iniciativa de destaque da categoria remonta a 1894, quando Nettie Honeyball, fundou o pioneiro clube desportivo britânico denominado “Ladies Football Club”. 

Proibições

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com uma parcela significativa dos homens mobilizada nos campos de batalha, as mulheres assumiram papéis proeminentes na força de trabalho. Nesse contexto, diversas fábricas criaram suas próprias equipes de futebol feminino.

Com o fim da guerra, os campeonatos de futebol masculino retornaram às suas atividades e o futebol feminino passou a ser visto como uma ameaça. Por conta disso, em 5 de dezembro de 1921, a Federação Inglesa de Futebol optou por proibir toda e qualquer forma de futebol praticado por mulheres nos estádios do país.

A medida só foi revogada em 1969, e dois anos depois, a UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) orientou seus parceiros a administrar e promover o futebol feminino, resultando na sua consolidação nos anos subsequentes na Europa.

Futebol feminino na América Latina

A proibição da Inglaterra respingou em outros países ao redor do mundo, como  França, Bélgica, Brasil, Alemanha e Paraguai. Inclusive, o Brasil destaca-se como um dos exemplos mais emblemáticos quando abordamos a histórica proibição das mulheres no futebol.

O “país do futebol” excluiu mulheres da prática do futebol e de outros esportes durante quase quatro décadas. Os órgãos responsáveis alegavam que as modalidades de contato não eram compatíveis ao corpo delas. A medida só foi revertida em 1979, mas sem grandes avanços.

No Paraguai, em 1960, um decreto também proibia as mulheres de participar do futebol, alegando que o esporte contrariava a “essência feminina” e poderia ter impactos na fertilidade. Somente três décadas depois essa medida foi revogada, possibilitando assim a realização do primeiro torneio experimental de futebol feminino nacional em 1997.

Enquanto isso, na Argentina, em 1971, o grupo “Las Pioneras” escrevia um capítulo histórico ao participar pela primeira vez como a Seleção de Futebol Feminina no Campeonato Mundial de Futebol Feminino (não oficial).

A discrepância cultural entre os países latino-americanos certamente impactou de forma única no desenvolvimento do esporte em cada país. As proibições geraram um grande retrocesso, e até os dias de hoje, elas têm que correr atrás do “atraso”.

Contexto atual

Esse ano, testemunhamos uma transformação cultural na América Latina. O interesse no futebol feminino cresceu muito em todo o continente, fazendo com que a categoria ganhasse maior atenção dos órgãos responsáveis.

Cabe lembrar que, desde 2019, a CBF passou a exigir que as equipes masculinas tenham um time feminino profissional e uma de base. A  Fifa, órgão regulador do futebol mundial, também tem investido na divulgação e nos direitos do futebol feminino.

O investimento, de certa forma, tem gerado resultado: no ano de 2022, o Corinthians conquistou não apenas o recorde de público na história do futebol feminino no Brasil, mas também estabeleceu a marca mais impressionante em toda a América do Sul, com 41.070 espectadores na Neo Química Arena durante a final do Campeonato Brasileiro.

O recorde anterior pertencia à final do Campeonato Colombiano deste mesmo ano, quando em Julho de 2022, 37.100 torcedores estiveram presentes no embate entre América de Cali e Deportivo Cali.

O envolvimento dos consumidores no futebol feminino chamou a atenção de grandes marcas como a Coca-Cola, iFood, Itaú, Latam e Mc Donalds que passaram a patrocinar clubes femininos e gerar maior visibilidade para os desafios enfrentados pelas atletas.

Copa do Mundo Feminina

A Copa do Mundo Feminina 2023, que foi realizada na Austrália e na Nova Zelândia, gerou grandes debates acerca da igualdade de gênero e das questões que ainda precisam ser tratadas no futebol feminino. Confira alguns fatos:

– Nouhaila Benzina, a zagueira do Marrocos, conquistou o pioneirismo ao se tornar a primeira jogadora a usar o hijab (o conjunto de vestimentas recomendado pela doutrina islâmica) na Copa do Mundo Feminina;

– Com 27 anos de idade, a camisa 5 do Canadá, Quinn foi a primeira pessoa trans a competir em uma Copa do Mundo, identificando-se como não binária. Além disso, em 2021, a atleta também entrou para a história ao ser a primeira pessoa trans a conquistar uma medalha de ouro olímpica;

– A Nike lançou chuteiras feitas especialmente para pés femininos. O novo design demorou 2 anos para ser finalizado e foi desenvolvido pensando em toda a anatomia feminina e suas necessidades em campo;

– A marca também realizou mudanças no uniforme das seleções: entre as inovações apresentadas, incluem-se avanços como a tecnologia drifit incorporada nas vestimentas, que viabiliza a ventilação do corpo sem prejudicar a mobilidade, e a introdução de um short menstrual integrado ao calção.

Juntas somos mais fortes

Cada evento histórico, seja ele positivo ou negativo, pode trazer lições e ensinamentos valiosos para o desenvolvimento sustentável da modalidade, não só na América Latina, como em todo o mundo.

Mesmo com o crescimento notável da visibilidade, é preciso que haja ações em conjunto que tragam valorização para o futebol feminino, levantando questões que impactam não só o esporte, mas toda a sociedade.

Dentre elas podemos destacar a igualdade de gênero, que passa desde a valorização dos povos com seus atletas, bem como condições e investimentos igualitários e justos, para que o esporte possa se desenvolver.

Também é possível falar de empoderamento, Femvertising, diversidade, inclusão, respeito e tolerância que deve partir de diversos âmbitos sociais: jornalistas, torcedores, atletas, marcas e órgãos reguladores.

Desafiar os estereótipos de gênero e transformar paradigmas faz parte do processo para inspirar novas gerações e impulsionar mudanças sociais positivas em todos os setores envolvidos.

As ações das marcas na Copa do Mundo Feminina

Com a Copa do Mundo Feminina, muitas marcas aproveitaram o momento para se conectar com seu público, promovendo o evento e demonstrando apoio e compromisso com o esporte, o empoderamento e a igualdade de gênero.

Confira algumas das ações e campanhas que ocorreram na Copa do Mundo Feminina 2023:

Adidas

FIFA Women’s World Cup 2023™ | Play Until They Can’t Look Away | adidas

Antes do início da Copa do Mundo Feminina, no dia 1º de Julho, a Adidas promoveu o torneio “Joga com as Mina” no Brasil, uma competição voltada para o público feminino que levaria/levou a vencedora para assistir ao Mundial na Austrália e na Nova Zelândia. 

Além das competidoras, a peleja contou com a presença de grandes nomes do futebol feminino no Brasil, como:  Maressa, Micaelly e Vitória Albuquerque, Formiga e Miranda. 

Além da campanha brasileira, a Adidas também lançou um vídeo mundial dinâmico com o tema “Play Until They Can’t Look Away”. A produção teve a participação de Alessia Russo, Lena Oberdorf e Mary Fowler, David Beckham, Leon Goretzka, Ian Wright, Jenna Ortega  e Lionel Messi.

Hyundai

Hyundai x FIFA Women’s World Cup 2023™ | How Far We’ve Come – Teaser

Patrocinadora oficial da Copa do Mundo Feminina, a Hyundai lançou a campanha “How Far We’ve Come”, que presta homenagem aos 25 anos de história da Copa do Mundo Feminina da FIFA™.

O vídeo abrange a jornada das mulheres no esporte e em sua totalidade, percorrendo além da Copa do Mundo e abraçando todo o caminho construído até alcançar este momento glorioso.

A Hyundai também desempenhou um papel de destaque ao patrocinar uma exposição especial intitulada “Calling the Shots: Faces of Women’s Football”, realizada no Museu FIFA durante o FIFA Fan Festival™ no Tumbalong Park, em Sydney.

Essa exposição é uma celebração do legado das jogadoras, equipes técnicas e torcedoras que desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento contínuo da Copa do Mundo Feminin, desde suas origens até os dias atuais.

Visa

https://www.youtube.com/watch?v=4Wo-mDHYnio&t=1s

A Visa lançou a campanha “Behind Every Number, There’s a Story”, o foco do vídeo é uma jovem que sonha se tornar uma jogadora profissional. A produção passa desde seu primeiro aniversário, passando pela compra de suas primeiras chuteiras, até sua estreia oficial nos gramados. “Por trás de cada número, há uma história”, diz a empresa.

#EscolhaJogarComElas Copa do Mundo Feminina FIFA™ | Visa

No Brasil, a marca lançou a hashtag #EscolhaJogarComElas para reiterar que apesar dos anos de proibição que marcaram o futebol feminino brasileiro, nenhum obstáculo foi capaz de parar a força das atletas.

Nesse contexto, a empresa também promoveu pinturas retratando o futebol feminino nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, juntamente com um vlog diário e caminhões itinerantes que transmitiram os jogos da Copa do Mundo Feminina.

Você sabia que atualmente os consumidores têm preferido marcas que apoiam alguma causa social e demonstram engajamento com questões diretamente ligadas ao desenvolvimento da sociedade?

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Written by: Helena Victoretti